sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Muralha do Bispo


A cidade do Porto, desde que ganhou importância como povoado, esteve sempre munida de defesas militares, ampliadas ou reforçadas ao longo do tempo pelos vários ocupantes da região (Brácaros, Romanos, Suevos, Visigodos e Árabes). As prospecções arqueológicas no morro da Sé apontaram para esse facto como certo, ao descobrirem as ruínas de um castro no local onde hoje ficam a Catedral, o Paço Episcopal e o casario envolvente. Foram ainda descobertos vestígios de muralhas romanas e suevas, sendo que estas últimas foram completamente destruídas em 825, aquando da passagem pela cidade do temível Almançor, que devastou a cidade no seu caminho até Compostela.

Sobre as ruínas destas muralhas mandou Moninho Viegas, cavaleiro da G
asconha e trisavô de Egas Moniz, construir uma nova cintura defensiva, reforçada por torres com grossas ameias de pedra. Esta muralha, que por muitos ainda é chamada de Muralha Sueva (apesar de apenas seguir, grosso modo, o trajecto da muralha que os Suevos construíram) ou de Cerca Velha (por ser mais antiga do que as muito mais famosas Muralhas Fernandinas), circundava o alto do morro da Penaventosa e tinha quatro portas, que davam para os arrabaldes da cidade, já na época povoados:
  • Porta de Vandoma: era a porta principal e a única por onde passavam carros. Foi demolida em 1855, ficava na Calçada de Vandoma.
  • Porta de São Sebastião: estava junto da Casa da Câmara, virada para a Rua de São Sebastião e foi demolida em 1819.
  • Porta de Santana: conhecida por Arco de Santana e celebrizada por Garrett, ficava a meio da Rua das Aldas e foi demolido em 1821.
  • Porta das Mentiras (depois Porta das Verdades): junto às Escadas das Mentiras (hoje Escadas das Verdades), demolida no século XIV.
A muralha existiu durante séculos e teve um papel importante durante a Idade Média, ao assinalar os domínios directos do Bispo, que aqui cobrava o imposto da portagem. Mas se já no tempo de D. Afonso Henriques havia arrabaldes fora da muralha, no reinado de D. Afonso IV havia muito mais cidade fora das muralhas do que dentro delas. Assim, este rei ordenou a construção de novos muros para circundar a cidade: as Muralhas Fernandinas. Desde então, a muralha antiga deixou de ter serventia e foi sendo esquecida. No século XIX foi quase totalmente demolida. Apenas restam alguns vestígios engolidos pelo casario e um pequeno pano com torreão ainda ameado, junto da Calçada de Vandoma.

A Minha Opinião

Esta é uma das curiosidades que o comum dos tripeiros já não sabe. Todos conhecem as Muralhas Fernandinas. Mal se fala nelas, pensamos naquele troço que sobe a escarpa dos Guindais, junto à parte superior da Ponte D. Luís I. Mas quantos já terão reparado no torreão ameado da Muralha do Bispo, que fica quase ao lado? No tempo em que o tabuleiro superior da ponte servia o tráfego automóvel, quem passava pela ponte e via uma das muralhas, via forçosamente a outra. E hoje ainda chama a atenção a muitos turistas, que tiram fotos sem saber o que é. Nesse campo, há uns bons anos, a Câmara teve a brilhante ideia de colocar postes com informação ao lado dos pontos de interesse patrimonial e histórico, o que facilita muito a vida dos turistas e aviva a memória dos locais. Uma ideia positiva.

É curioso pensar um pouco na História. Será que se consegue imaginar a importância que já tiveram as muralhas no Porto, como em qualquer cidade medieval? Claro, em tempo de guerra cabe à muralha defender a cidade, os seus habitantes e haveres do inimigo. Mas mesmo em tempo de paz tinha serventia: mantinha fora da cidade aqueles que não interessavam (indigentes, leprosos, os judeus e mouros das judiarias e mourarias), como sinal de poder (quanto mais alta e possante fosse, mais rica e poderosa era a cidade ou o seu senhor) e como um modo de arrecadar dinheiro (por causa das portagens, pois para cruzar as portas da cidade pagava-se, tanto pela pessoa, como pela carga, carro ou animal). E esta? Quem julgava que as portagens eram uma invenção recente do Governo para arrecadar mais dinheiro ao povo, enganou-se! São algo que sempre existiu e ainda existe, pois ainda pagamos portagens (cada vez mais).

Quanto à muralha em si, conheço muito bem o troço que sobreviveu até hoje, mas acho que se faria bem limpá-lo: a desgraçada da torre está cheia de lixo de toda a sorte, devido (e nisso sejamos sinceros) à falta de civismo e educação dos que ali passam. Será que as pessoas que ali deitam papeis, beatas e até (note-se!) preservativos usados não tiveram pais em casa que lhes dissessem que deitar lixo fora do caixote é feio e lhes dessem uns açoites? Parece. Enfim... quando o pau nasce torto...

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